A Família Cecchetto de Santa Catarina

Vou falar o que descobri e o que descobriram sobre os meus ancestrais da Família Cecchetto de Santa Catarina. Eles vieram da Comune de Vedelago, localizada em Treviso, região do Vêneto, na Itália.

Separei esse Post em duas partes, a primeira, onde falo da trajetória da família Cecchetto até seu destino final, Colônia Grão-Pará, e a segunda parte falo da genealogia de 5 gerações de Giuseppe Cecchetto, duas gerações acima – pais e avós , e duas gerações abaixo – filhos e netos.

Agradecimentos:

Este trabalho foi feito a partir de um levantamento de materiais de 6 anos de pesquisa acumulados. Agradecimento especial a Carmelita Chiquetti e ao Vladimir Schuindt, que também colaboraram nas pesquisas e no material utilizado neste trabalho.

Soraia D. Haidar – “Alma Cecchetto

Parte IDa Itália para o Brasil – do Vêneto para Santa Catarina – de Vedelago para a Colônia Grão-Pará

Para começar é importante compreender o contexto histórico-político que viviam os italianos, para entender os motivos que resultou na grande migração desse povo.

Após o tratado de Viena em 1815 ocorre a divisão da Itália em sete reinos (Reino de Sardenha, Reinos das Duas Sicílias, Estados Pontifícios da Igreja, Reino Lombardo-Vêneto, Ducados de Parma, Modena e Grão-Ducado de Toscana) que eram governados por reis austríacos absolutistas e vivenciou uma decadência econômica profunda que resultou na unificação da Itália em 1861, mediante um acordo entre as elites, com limites impostos pelos liberais moderadores, os quais direcionaram a estrutura deste novo Reino para o capitalismo. (FACHIN, 2016)

Embora a unificação da Itália tenha proporcionado uma estruturação do seu mercado capitalista privilegiando apenas as indústrias, prejudicou o setor do campo e a situação financeira estava na mesma situação. Com o aumento da população urbana e a estagnação do processo de industrialização, surge o processo emigratório e de certa forma com o apoio do estado, o fluxo emigratório fez com que 24 milhões de pessoas deixassem a Itália no período de 1870 e 1913. (FACHIN, 2016)

A família Cecchetto, cujo o patriarca era Giuseppe Cecchetto, saiu da Itália pelo Porto de Gênova, que fica na costa leste do mar mediterrâneo ao norte da Itália no Vapor Paraguay e chegou ao Rio de Janeiro em 15 de novembro de 1887.

Antes de embarcar nos vapores, os italianos precisavam percorrer longas distâncias dentro do próprio país até chegarem aos Portos, no caso, dos Cecchetto, eles saíram de Vedelago e se deslocaram até Gênova, aproximadamente 354 quilômetros de percurso, em uma época que não existia transporte rodoviário ou mesmo ferroviário, podendo levar dias para chegar ao destino.

O trajeto de navio a Vapor da Itália ao Brasil levava em média 25 dias, e as passagens concedidas às famílias italianas eram todas de terceira classe, ou seja, nos porões dos navios, local com pouca iluminação e ventilação, umidade e excesso de passageiros, um ambiente ideal para proliferação de doenças.

Nossos ancestrais italianos que embarcavam nessa viagem cheio de incertezas, muitas vezes sequer sabiam para onde iriam ao chegar no Brasil, mas uma coisa era certa, era necessário recomeçar a vida em novas terras.

Nos registros de passageiros da embarcação “Vapor Paraguay”, no verso da página 2 e página 3, foram encontrados 16 pessoas da Família de Cecchetto. Sou descendente de Angelo Cecchetto, e pude identificar nesses registros, além dele, seus pais, irmãos, esposa, filhos e sobrinhos, conforme transcritos a seguir.

  • nº 158 – Angelo Cecchetto – 35 anos
  • nº 159 – Valentina Lazarinni – 27 anos (esposa de Angelo Cecchetto)
  • nº 160 – Teresa Cecchetto – 11 anos (filha de Angelo Cecchetto, Teresa Cecília Cecchetto)
  • nº 161 – Maximo Cecchetto – 9 anos (filho de Angelo Cecchetto)
  • nº 162 – Teresa Cecchetto – 4 anos (talvez seja a filha de Angelo Cecchetto, Anna)
  • nº 163 – Santa Cecchetto – 6 anos (filha de Angelo Cecchetto)
  • nº 164 – Giuseppe Cecchetto – 74 anos (pai de Angelo Cecchetto)
  • nº 165 – Giovanna Rigon – 68 anos (mãe de Angelo Cecchetto)
  • nº 166 – Gio Maria Cecchetto – 40 anos (irmão de Angelo Cecchetto)
  • nº 167 – Giuditta Cecchetto – 35 anos (esposa de Gio Maria Cecchetto)
  • nº 168 – Andrea Cecchetto – 12 anos (filho de Gio Maria e Giuditta)
  • nº 169 – Anna Cecchetto – 11 anos (filha de Gio Maria e Giuditta)
  • nº 170 – Maria Cecchetto – 9 anos (filha de Gio Maria e Giuditta)
  • nº 171 – Carlotta Cecchetto – 4 anos (filha de Gio Maria e Giuditta)
  • nº 172 – Antonio Cecchetto – 2 anos (filho de Gio Maria e Giuditta)
  • nº 173 – Irene Cecchetto – 6 anos (filha de Gio Maria e Giuditta)

Chegando no Brasil pelo Porto do Rio de Janeiro, Giuseppe Cecchetto e sua família, deram entrada na Hospedaria Ilha das Flores no dia 15 de novembro 1887 e a saída foi no dia 17, dois dias depois, conforme imagem do documento. Consta ainda nesse documento que o destino é Laguna (Santa Catarina), que fica aproximadamente 80 quilômetros do destino final da família, a Colônia Grão-Pará, Santa Catarina. Laguna nesta época recebia imigrantes no Porto, conforme citado no site da Prefeitura deste município, na seção que conta a História de Laguna, as embarcações eram menores, utilizadas para navegação costeira, que possibilitava a entrada na barra da Laguna.

No arquivo histórico de Santa Catarina, foi possível identificar uma relação de 17 pessoas, as mesmas relacionadas na embarcação que atracou no Rio de Janeiro, mas agora com adicional de um bebê de 1 mês, chamada Amália. É interessante que neste registro podemos identificar o nome do Navio que trouxe a família do Rio de Janeiro para Laguna, com destino a Colônia Grão-Pará, “Vapor Rio Pardo”.

“Os imigrantes chegavam pelo porto de Laguna, ficavam na beira da praia, nos trapiches, esperando embarcações e seguiam para o interior. No começo era pelas lagoas e rios e mais tarde através da estrada de ferro Dona Tereza Cristina (iniciada sua construção em 1880 e aberta ao tráfego em 1884).”

Fonte: Site da Prefeitura Municipal de Laguna

Amália aparece também na listagem da hospedaria Ilha das Flores, criança com 1 mês idade, “Amalia Cecchetto” (ordem 12976), possivelmente filha de Giovanni Maria Cecchetto e Giuditta Barro.

Situada no Vale do Rio Tubarão, no Sul de Santa Catarina, as terras da Colônia Grão-Pará faziam parte do dote patrimonial da Princesa Isabel, que havia casado com o Príncipe Gastão d’Orleans (Conde d’Eu). As terras desta Colônia incluía onde é atualmente as cidades de Grão-Pará, Orleans, e parte de São Ludgero. Nesta Colônia, que foi inaugurada em 02 de dezembro de 1882, existia um contrato, no qual o Conde e a Condessa d’Eu designava ao Comendador Joaquim Caetano Pinto Junior, constituir uma empresa responsável por colonizar as terras. A empresa que se estabeleceu vendia os lotes coloniais, atuava na exploração mineral e extração da madeira local, e parte dos lucros das terras vendidas, além do lucro sobre a exploração do minério encontrado nas terras, eram destinados ao Conde e a Condessa. A região era um polo de exploração de carvão mineral, tanto que naquele período estava em construção uma ferrovia, Estrada de Ferro Thereza Christina, ligando as minas de carvão ao município de Imbituba. (MARTINS, 1979)

A vinda e o estabelecimento dos imigrantes era financiada pela Empresa Colonizadora, aqueles que comprava terras recebiam um “Título de Posse”, mas que seguiam algumas condições a serem cumpridas que causavam uma dependência financeira do imigrante em relação à Empresa. Essas condições incluíam a entrega de parte da produção do imigrante para pagar dívidas e aceitar “vales” da empresa para compra de alimentos complementares para consumo em determinados armazéns. (MARTINS, 1979)

Na atual localização da antiga sede da Empresa Colonizadora Grão-Pará hoje existem apenas Ruínas.

Consta nos registros do censo da Colônia Grão-Pará que Angelo Cecchetto, adquiriu dois lotes em 15 de janeiro de 1885. Possivelmente a compra do terreno ocorreu quando ainda estava na Itália, pois conforme apresentado, a família Cecchetto chegou ao Brasil em novembro de 1887, ou seja, um ano e 10 meses depois da aquisição das terras. Neste documento é possível observar também que o número de dependentes de Angelo eram 4, que corresponde a exatamente ao número de filhos que ele tinha entre 1885 a 1887.

Foi possível identificar um dos terrenos adquiridos por Angelo Cecchetto, Giovanni Maria Cecchetto e um tal Maximiliano Cecchetto. O mapa permite localizar exatamente onde ficavam os terrenos.

  • Na primeira imagem, parte da Colônia Grão-Pará com a divisões das terras e os respectivos compradores sobreposto ao Google Maps. No quadrado vermelho fica a região onde foi identificado as propriedades da família Cecchetto.
  • Na segunda imagem, aproximando mais, é possível identificar os terrenos adiquiridos por Angelo Cecchetto, Giovanni Maria Cecchetto e um tal Maximiliano Cecchetto.
  • Na terceira imagem é possível identificar o mapa dos terrenos sobreposto a foto satélite.
  • Na quarta imagem segue a delimitação das terras de Angelo Cecchetto no Google Maps, imagem satélite.

PARTE II – Genealogia da Família Cecchetto de Santa Catarina Evidências Documentais

Giuseppe Cecchetto foi batizado na Itália em 23 de abril de 1832 na Comune de Vedelago, Treviso, região do Veneto, o batismo foi realizado na Parrocchia di San Martino Vescovo di Vedelago. No registro de batismo de Giuseppe, consta que ele é filho de Bortolo Cecchetto (ou Zecchetto) e Paola Gardin (1808-1874). Consta ainda que Bortolo era filho de Giuseppe (mesmo nome dado ao filho) e Paola era filha de Giacomo.

Foi encontrado o registro de óbito de Paola Gardin, em Vedelago, ocorrido em 13 de fevereiro de 1874, aos 66 anos de idade. Consta neste documento que Paola era viúva de Bortolo Cecchetto, e que ela era filha do falecido Giacomo Gardin e de Zandandrea Bonaventura.

Giuseppe Cecchetto (1813) e Giovanna Rigon (1819-1902), vieram para o Brasil com seus filhos e netos, ele com 74 anos e ela aos 68 anos de idade. Giuseppe era chamado no Brasil de “José Chequeto” e Giovanna de “Joanna” e o sobrenome Rigon, foi transcrito de forma errada como “Dorigon”, isso possivelmente porque a pronuncia italiana é diferente, o que acabava causando uma certa confusão aos escrivães e como a maioria dos imigrantes não eram alfabetizados, também não identificavam esses erros de grafia.

Não foi encontrado o óbito de Giuseppe Cecchetto, mas Giovana Rigon faleceu em 18 de setembro de 1901 em Orleans. Embora conste no óbito que a idade de falecimento de Giovanna era de 88 anos, pela idade que ela apresentava ao chegar no Brasil (1887), 68 anos, e passando-se 14 anos até o seu falecimento, a idade correta seria de aproximadamente 82 anos (1901).

Tiveram pelo menos 4 fihos:

  • F1 – Giovanni Maria Cecchetto
  • F2 – Santa Cecchetto
  • F3 – Angela Cecchetto
  • F4 – Angelo Cecchetto

Na imagem a seguir uma representação da genealogia das 4 gerações citadas até o momento:

F1. Giovanni Maria Cecchetto

Giovanni Maria Cecchetto, chamado também de Gio Maria Cecchetto nasceu em Vedelago, Treviso, Veneto, Itália em 1847. Foi casado com Giuditta Barro em 16 de fevereiro de 1874 na Parrochia San Martino Vescovo di Vedelago, na Itália. A família de Gio Maria veio com a esposa e 7 filhos.

  • N1 – Andrea
  • N2 – Anna
  • N3 – Maria
  • N4 – Carlota
  • N5 – Antonio
  • N6 – Irene
  • N7 – Amalia

F2. Santa Cecchetto

Santa Cecchetto nasceu na italia em Vedelago, Treviso, Veneto, aproximadamente em 1849. Casou-se na Itália aos 23 anos com Michiele Lazzerin em Vedelago, no dia 27 de julho de 1872.

Ainda não tenho informação se Santa migrou para o Brasil.

F3. Angela Cecchetto

Angela Cecchetto (1850-?) nasceu em Vedelago, Treviso, Veneto, Itália em 1850. Foi casada com Bernardo Baggio em Vedelago aproximadamente em 1870. Nas minhas pequisas, existem registros que o casal se dirigiu para a Colônia Azambuja, onde os imigrantes se dividiram em terras que pertencem a Nova Veneza e Urussanga, Santa Catarina.

O casal teve pelo menos os seguintes filhos:

  • N1 – Maria Elisabetta
  • N2 – Fortunato
  • N3 – Cecilia
  • N4 – Santo
  • N5 – Pietro
  • N6 – Giovanni
  • N7 – Davide
  • N8 – Anna
  • N9 – Antonia

F4. Angelo Cecchetto

Angelo Cecchetto (1854-1913) nasceu em Vedelago, Treviso, Veneto, Itália em 05 de junho de 1854 e faleceu no Brasil, em 14 de junho de 1913, em Orleans, Santa Catarina. Foi casado na Itália em 20 de fevereiro de 1876 com Valentina Lazzarini (1850-1896), sua primeira esposa que veio a falecer alguns anos depois no Brasil. Depois de viúvo, Angelo casou-se com a Maria Welter (1872-1913) em Orleans-SC.

Na Itália nasceram 4 filhos de Angelo com Valentina e os demais nasceram no Brasil.

Filhos de Angelo Cecchetto com Valentina Lazzarini:

  • N1 – Teresa Cecilia
  • N2 – Massimo
  • N3 – Santa
  • N4 – Teresa
  • N5 – Anna
  • N6 – Sebastião
  • N7 – José
  • N8 – Josephina
  • N9 – Valentina

Com Valentina teve 9 filhos e com Maria Welter teve outros 10 filhos a seguir:

  • N10 – Victória
  • N11 – Rodolfo
  • N12 – Joanna
  • N13 – Loureço
  • N14 – Santa Maria
  • N15 – David
  • N16 – Luiz Agostinho
  • N17- Martinho Agostinho
  • N18- Joaquim
  • N19- Angelina

Maria Welter, a segunda esposa de Angelo Cecchetto, também era viúva quando casou-se com Angelo, e do primeiro casamento com João Leandro de Moraes tinha 4 filhos:

  • N-20 – Arminda Maria de Moraes
  • N-21 – Manoel Leandro de Moraes
  • N-22 – Abraão Leandro de Moraes
  • N-23 – Pedro Leandro de Moraes

Valentina Lazzarini, a primeira esposa de Angelo Cecchetto, faleceu em 16 de outubro de 1896, aos 45 anos de idade. Consta no registro de casamento que era filha de Valentino Lazzarini e Catherina Netto. Consta no registro de óbito de Valentina que ela deixou 6 filhos, possivelmente 3 filhos já eram falecidos.

Registro de Batismo de Angelo Cecchetto
Casamento de Angelo Cecchetto e Valentina Lazzarini
Óbito de Valentina Lazzarini

Maria Welter, a segunda esposa de Angelo Cecchetto, era filha de José Welter e Anna Haskel, nascida em São Pedro de Alcântara, casou-se com Angelo Cecchetto no regilioso em 09 de dezembro de 1899 aos 28 anos de idade em São Ludgero, Santa Cataria. Em 05 de janeiro de 1901, Maria Welter casa-se no civil com Angelo Cecchetto, aos 29 anos de idade, em Orleans, Santa Catarina. Não foi encontrado o registro de óbito de Maria Welter, mas existe relatos que faleceu em Atalanta, Santa Catarina em 31 de janeiro de 1961.

Casamento de Angelo Cecchetto e Maria Welter
Óbito de Angelo Cecchetto

Durante as pesquisas foram identificadas variações na grafia de alguns nomes:

  • Giuseppe Cecchetto = Joseppe Chequeto = José Chequetto
  • Giovanna Rigon = Joanna Dorigon = Joanna Durigon
  • Angelo Cecchetto = Angelo Chequeto = Angelo Chequetto
  • Giovanni Maria Cecchetto = Gio Maria Cecchetto = João Chequetto
  • Andrea Cecchetto = André Chequeto
  • Giuditta Barro = Judite Chequeto
  • Teresa Cecilia Cecchetto = Cecilia Cecchetto = Cecilia Chequetto
  • Massimo = Maximo
  • Santa = Santalina

O sobrenome Cecchetto também sofreu variações na grafia nos descendentes Giuseppe Ceccheto, tais como:

  • Cecheto
  • Cechetto
  • Ceccheto
  • Ciqueto
  • Ciquet
  • Chequeto
  • Chequetto
  • Chiquett
  • Chiqueti
  • Chiquetti
  • Schiquet

Fontes de Pesquisa:

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